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Sweet Home: O jogo que inspirou Resident Evil

Muito antes de Resident Evil definir o gênero survival horror como o conhecemos, um jogo lançado discretamente no Japão já pavimentava o caminho para tudo o que viria a seguir. Seu nome é Sweet Home, um RPG de terror lançado pela Capcom em 1989 para o Famicom (o NES japonês), e ele é, sem exageros, o embrião de uma das franquias mais importantes da história dos videogames.

Embora tenha sido pouco conhecido fora do Japão por décadas, Sweet Home é hoje reconhecido como o ponto de partida essencial que inspirou diretamente Resident Evil — tanto em estrutura quanto em espírito. Neste artigo, vamos conhecer a fundo esse título obscuro, mas revolucionário, e entender como ele influenciou um dos pilares do terror nos games.


A Origem: Um RPG baseado em filme de terror

Sweet Home nasceu como uma adaptação oficial do filme homônimo dirigido por Kiyoshi Kurosawa, lançado no mesmo ano. A Capcom obteve os direitos para criar o jogo, mas não seguiu o caminho fácil de apenas replicar os eventos do longa. Ao invés disso, desenvolveu uma experiência interativa original que misturava exploração, quebra-cabeças, combate e horror psicológico de forma inovadora.

O jogador controlava cinco personagens — uma equipe de documentaristas presos dentro de uma mansão amaldiçoada enquanto investigavam pinturas enigmáticas de um artista falecido. A narrativa era entregue em ritmo cadenciado, com atmosfera densa e momentos de tensão que surpreendiam dentro das limitações gráficas do Famicom.


Elementos que anteciparam Resident Evil

Muitos dos conceitos que viriam a definir Resident Evil em 1996 já estavam presentes em Sweet Home. Shinji Mikami, diretor do primeiro RE, já afirmou em entrevistas que o jogo de 1989 foi influência direta no desenvolvimento da franquia — a ponto de, inicialmente, Resident Evil ser planejado como um remake de Sweet Home.

Veja alguns dos principais elementos que Sweet Home introduziu e que foram herdados por RE:

  • Uma mansão isolada e cheia de perigos: o cenário central de ambos os jogos é um casarão repleto de segredos, armadilhas e criaturas sobrenaturais.
  • Exploração com chaveamento de áreas: o progresso depende do uso de itens específicos, exigindo retorno a locais anteriores — base da famosa estrutura de “backtracking” de RE.
  • Gestão limitada de inventário: cada personagem só podia carregar um número específico de itens, forçando o jogador a pensar estrategicamente — conceito que se tornou marca registrada em RE.
  • Múltiplos personagens jogáveis com habilidades únicas: cada membro da equipe em Sweet Home tinha uma função especial (como curar ou acender tochas), antecipando o sistema de personagens complementares usado em RE Zero e RE Outbreak.
  • Uso de notas e pistas espalhadas pelo ambiente: outra base narrativa que se manteve em todos os Resident Evil posteriores.

Mesmo sendo um RPG por turnos e com visual 8-bits, Sweet Home já oferecia um clima de tensão constante, escassez de recursos e uma história centrada em tragédias humanas, possessões e culpa — temas que seriam aprofundados anos depois em Resident Evil e Silent Hill.


Um clássico perdido… Mas não esquecido

Lançado apenas no Japão e nunca traduzido oficialmente, Sweet Home permaneceu como um segredo bem guardado por muitos anos. Foi só após o sucesso internacional de Resident Evil que os fãs começaram a olhar para trás e descobrir esse precursor.

Graças à comunidade de entusiastas de jogos retrô, Sweet Home ganhou uma tradução feita por fãs em inglês em 2000, permitindo que jogadores do mundo todo pudessem finalmente experienciar a obra original. Desde então, tem sido alvo de reavaliações críticas, sendo apontado como um pioneiro do survival horror, mesmo que em uma época onde o termo sequer existia.


A ligação com Resident Evil é profunda

Além das semelhanças mecânicas e temáticas, Sweet Home influenciou Resident Evil também em aspectos artísticos e criativos:

  • A abertura da porta em primeira pessoa — ícone de RE — surgiu em Sweet Home como forma de mascarar o carregamento de áreas.
  • A trilha sonora sombria e tensa de ambos os jogos carrega DNA semelhante, ainda que em gerações tecnológicas diferentes.
  • O ritmo cadenciado, alternando exploração, resolução de enigmas e sustos repentinos, é praticamente idêntico.
  • A morte permanente dos personagens em Sweet Home já introduzia o conceito de consequências reais por decisões erradas — algo que games modernos ainda utilizam para aumentar o peso da narrativa.

A ideia original da Capcom era mesmo criar uma nova versão de Sweet Home em 3D para o PlayStation. No entanto, conforme o projeto cresceu, ganhou identidade própria e deu origem a Resident Evil, que seria lançado em 1996 e mudaria o rumo dos videogames para sempre.


Sweet Home: Um tesouro que merece reconhecimento

Em retrospecto, Sweet Home foi ousado, denso e ambicioso. Ao misturar RPG, terror psicológico, puzzles e exploração não linear, ofereceu uma experiência única que transcendeu as limitações do Famicom. Mesmo sendo um jogo esquecido por muito tempo, sua importância histórica é indiscutível.

Se Resident Evil foi a revolução do survival horror, Sweet Home foi sua semente primordial — um jogo corajoso que experimentou quando quase ninguém fazia isso. Jogá-lo hoje é como abrir um diário antigo e encontrar nele as ideias que moldariam o futuro de um gênero inteiro.

Sweet Home é mais do que um clássico esquecido — é um marco silencioso do terror nos videogames. Seu impacto vai muito além da nostalgia, pois ele carrega os alicerces de um dos maiores fenômenos da indústria: Resident Evil. Para quem busca entender as origens do survival horror, esse título de 1989 não pode ser ignorado.

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Press manager, criador de conteúdos e redator de notícias sobre universo gamer, nerd e geek. TikTok: ramosbuenojoga

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