Em um mundo aprisionado pela fé é preciso um pouco de loucura para se libertar
Chave cedida via Keymailer

Nos últimos anos, os walking simulators vêm conquistando um espaço especial na indústria dos games, focando em narrativas profundas e atmosferas imersivas. Indika, desenvolvido pela Odd Meter e publicado pela 11 bit studios, segue essa linha, oferecendo uma experiência contemplativa e carregada de simbolismos. Com uma jogabilidade minimalista e uma história densa, o jogo se destaca pelo visual único e pela sua abordagem filosófica, embora algumas decisões de design possam frustrar os jogadores.
Uma Jornada Entre a Fé e a Rebeldia
Indika se passa na Rússia do século XIX e acompanha a jornada da jovem Indika, uma noviça que vive em conflito com sua fé e com a realidade ao seu redor. Enquanto tenta encontrar seu propósito, ela começa a ouvir a voz do Diabo, que a acompanha como uma presença constante e irônica, provocando reflexões profundas sobre moralidade, crenças e identidade.
Ao longo da aventura, Indika se depara com diversas figuras peculiares, cada uma contribuindo para sua jornada de autodescoberta. O jogo aposta em uma narrativa introspectiva e filosófica, explorando temas como repressão religiosa, o peso da culpa e a busca por liberdade.
Visuais e Direção de Arte: Um Mundo Frio e Imersivo
Um dos pontos mais marcantes de Indika é sua estética. A direção de arte aposta em tons frios e cenários que evocam um senso de isolamento e melancolia, reforçando a sensação de opressão que acompanha a protagonista. As paisagens russas são representadas de forma quase poética, com igrejas antigas, florestas gélidas e vilarejos decadentes compondo um mundo ao mesmo tempo belo e angustiante.
A câmera cinematográfica e o uso inteligente da iluminação contribuem para a imersão, tornando cada cena visualmente impactante.




Narrativa: Entre o Cômico e o Filosófico
Diferente de outros jogos que abordam temas religiosos de maneira rígida, Indika insere um toque de humor sarcástico na sua trama. O diálogo entre a protagonista e a entidade demoníaca que a acompanha cria momentos inesperadamente cômicos, contrastando com o peso emocional da jornada. Esse equilíbrio entre melancolia e ironia faz com que o jogo se destaque entre outras experiências narrativas.
A história também se desenrola de forma não linear, incentivando o jogador a interpretar seus simbolismos e mensagens ocultas.
Trilha Sonora: A Música Como Parte da Experiência
A trilha sonora de Indika complementa perfeitamente a sua atmosfera sombria e contemplativa. As composições variam entre melodias sutis e momentos de silêncio absoluto, permitindo que os sons ambientais e os diálogos tenham um impacto maior. Esse design sonoro minimalista intensifica a sensação de imersão e solidão.
Jogabilidade: Contemplação e Pequenos Desafios
Ao contrário de jogos como Hellblade: Senua’s Sacrifice, que combinam narrativa com mecânicas de combate e exploração, Indika abraça completamente o gênero walking simulator. A jogabilidade se concentra em movimentação, exploração e resolução de pequenos puzzles, sem elementos de ação. Isso pode ser um ponto positivo para quem busca uma experiência mais narrativa, mas também pode afastar jogadores que preferem mecânicas mais interativas.
Um detalhe que pode incomodar é a ausência de salvamento manual. O jogo só salva automaticamente ao final de cada cena, o que pode ser frustrante para aqueles que precisam interromper a sessão no meio de uma sequência mais longa.
Conclusão: Um Conto Surreal e Reflexivo
Indika entrega uma experiência marcante, mergulhando o jogador em uma jornada filosófica e visualmente impressionante. Seu maior mérito está na narrativa intrigante, na ambientação melancólica e na trilha sonora sutil, que juntas constroem uma atmosfera única. No entanto, a falta de variedade na jogabilidade e o sistema de salvamento rígido podem ser obstáculos para alguns jogadores.
Para aqueles que apreciam jogos narrativos e reflexivos, Indika é uma experiência imperdível.
