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Etika: Fama digital e o alerta urgente sobre saúde mental nas redes sociais

Desmond Amofah, mais conhecido como Etika, foi uma das figuras mais carismáticas e influentes da comunidade gamer no YouTube. Com seus vídeos vibrantes, reações exageradas e paixão contagiante por jogos da Nintendo, especialmente a série Super Smash Bros., ele rapidamente conquistou uma legião de fãs. No entanto, por trás da câmera, Etika travava uma batalha silenciosa contra problemas de saúde mental, um drama que culminaria em uma tragédia e levantaria discussões urgentes sobre os efeitos nocivos da exposição extrema nas redes sociais.

Nascido em 12 de maio de 1990, em Brooklyn, Nova York, Desmond Amofah era filho de um político ganês e cresceu em um ambiente multicultural. Começou sua carreira online em meados da década de 2010, e logo se destacou por seu carisma e energia em transmissões ao vivo e vídeos de reação. Seus conteúdos envolviam desde análises de jogos até discussões sobre cultura pop, sempre com uma intensidade que beirava o teatral. Mas esse mesmo entusiasmo que o impulsionou ao estrelato também escondia sinais de exaustão emocional.

A pressão por manter uma imagem pública irreverente e sempre empolgada é um fardo comum entre criadores de conteúdo. Para Etika, essa cobrança se intensificou com o crescimento da sua audiência. Em 2018, começaram a surgir comportamentos erráticos em suas redes sociais. Postagens enigmáticas, desaparecimentos repentinos e crises em transmissões ao vivo acenderam um alerta entre seus seguidores. Muitos se preocuparam, outros confundiram seus sinais de sofrimento com tentativas de autopromoção.

Em abril de 2019, Etika publicou vídeos e mensagens cada vez mais perturbadoras, com teor existencialista e até referências à morte. Seus canais foram suspensos, e ele chegou a ser internado em instituições psiquiátricas após crises públicas. Apesar disso, a resposta da comunidade online, de parte da mídia e até das próprias plataformas foi, em muitos momentos, marcada por descaso ou ironia. Muitos trataram suas ações como “conteúdo”, desumanizando uma pessoa em sofrimento.

No dia 19 de junho de 2019, Etika desapareceu após publicar um vídeo em que expressava arrependimentos, falava de sua luta com a depressão e se despedia de seus fãs. Seu corpo foi encontrado no rio East, em Nova York, seis dias depois. A morte de Desmond Amofah, aos 29 anos, foi oficialmente registrada como suicídio.

A tragédia de Etika expôs de forma brutal como as redes sociais podem se tornar ambientes tóxicos e desumanizantes para quem vive sob os holofotes digitais. A constante necessidade de validação, o medo do esquecimento, os ataques de ódio e a superexposição emocional se acumulam como camadas de pressão que, somadas a quadros de saúde mental preexistentes, podem ser letais.

O caso também revelou lacunas na forma como plataformas digitais lidam com sinais de crise emocional. Enquanto algoritmos promovem conteúdos por engajamento, muitas vezes recompensando o sensacionalismo, há pouca estrutura para detectar e intervir em situações de risco psicológico. O descompasso entre o alcance das redes e a responsabilidade por seus efeitos é um problema que ainda precisa ser enfrentado com mais seriedade.

Após sua morte, amigos, fãs e outros criadores passaram a mobilizar campanhas de conscientização sobre saúde mental. Uma das mais simbólicas foi a iniciativa para colocar uma placa de homenagem na ponte de Manhattan, que chegou a reunir milhares de assinaturas. Muitos passaram a usar a hashtag #JoyConBoyzForever — referência ao grupo de fãs que Etika liderava — não apenas como um tributo, mas também como um chamado à empatia e à busca por apoio psicológico.

A história de Etika deve ser lembrada não apenas por seu talento e influência, mas como um lembrete doloroso de que saúde mental importa, e muito. Criadores de conteúdo, assim como qualquer pessoa, precisam de espaços seguros para expressar seus sentimentos, buscar ajuda e serem compreendidos. É essencial romper o estigma que ainda cerca doenças mentais, principalmente no meio digital, onde a aparência de felicidade constante pode mascarar dores profundas.

Se você ou alguém que conhece está passando por momentos difíceis, não hesite em buscar ajuda profissional. No Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio emocional gratuito e sigiloso pelo número 188, disponível 24 horas por dia. Sua vida é importante. Sua dor tem solução. E você não está sozinho.

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Press Manager, criador de conteúdo e editor do Patobah | Pai, marido, pessoa com TEA | Gamer, fã de cultura pop e animes dos anos 90 - [email protected]

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