Introdução: O Cenário da Guerra dos Consoles
Desde os anos 80, a Nintendo travou batalhas épicas contra as rivais Sega e Sony. Cada geração de consoles trouxe muitas tretas e lições que moldaram o Nintendo Switch – um híbrido revolucionário. Eu sou o Fauno do História & Games, e hoje, vamos explorar como derrotas, vitórias e estratégias do passado definiram o sucesso do Nintendo Switch.
1. Anos 80: A Batalha pela Dominância Global do Mercado de Games
Nossa conversa começa lá em 1983, com o lançamento do Nintendinho, que durou por 7 anos até ter sido descontinuado em 1990. O console foi um sucesso, vendendo quase 62 milhões de unidades e consolidando a Nintendo como líder de mercado absoluta, especialmente nos Estados Unidos e no Japão, onde detinha uma fatia de 70% do mercado em 1987, olha que loucura. Não chega a ser um monopólio, mas é quase isso.

Toda essa vantagem, deu à Nintendo o privilégio de reposicionar o videogame como um “sistema de entretenimento” após a crise de 1983, o que evitou associarem a marca ao fracasso do Atari 2600. Importante dizer, que um dos maiores trunfos da Nintendo foi o bundle com o jogo Super Mario Bros, que sozinho, vendeu 40 milhões de cópias e foi decisivo para manter a Nintendo na liderança das vendas.
Outro trunfo comercial conseguido pela empresa foi a imposição de contratos restritivos a empresas terceiras, limitando o lançamento de concorrentes a 5 jogos por ano no Nintendinho e exigindo exclusividade por 2 anos. Dessa forma, a Nintendo não só fez sucesso com o Nintendinho, como também estrangulou a concorrência e garantiu títulos icônicos como The Legend of Zelda e Metroid.
E a concorrência? Bom, a concorrência surgiu com o Master System em 1986, que durou 10 anos até ser descontinuado em 1996. O console vendeu 13 milhões de unidades no mundo, apenas 20% do Nintendinho, vendendo apenas 2 milhões de unidades nos Estados Unidos (devido à falha de marketing e distribuição da Tonka) e 8 milhões de unidades aqui no Brasil, em parceria com a Tectoy. Importante dizer que, apesar de ter “flopado” em relação ao Nintendinho, o Mastersystem contava com um processor muito melhor e som FM no modelo japonês. Olhando pra trás, vemos que jogos como Alex Kidd in Miracle World e Phantasy Star mostravam gráficos bem superiores, mas isso não foi o suficiente para salvar o console em uma época da guerra de consoles, onde os jogos exclusivos eram essenciais para determinar a compra de um videogame.
Essa história da guerra entre Nintendinho e Master System mostra que as empresas adotaram estratégias diferentes e isso foi essencial para determinar o sucesso de um e a derrota de outro. Enquanto a Nintendo revolucionou o gênero de plataforma com o Super Mario de 1985 e o Zelda de 1986 popularizou RPGs de ação, a Nintendo investiu cerca de 20 milhões de dólares ao ano em marketing, enquanto a Sega investia apenas 8 milhões. Mas como eu disse, o grande ponto de vantagem da Nintendo eram os jogos exclusivos e a dominação de mercado dos fornecedores de jogos, por meio de contratos bem agressivos.
Claro, nos anos 90, Sonic veio para tirar o posto de rei do Mario, mas a Sega falhou em emplacar Alex Kidd como o mascote oficial da empresa nos anos 80, deixando o campo livre para a Nintendo dominar o mundo com o encanador mais carismático de todos os tempos. A Sega até conseguiu um belo êxito no Brasil por meio da parceria com a Tec Toy, chegando a lançar periféricos exclusivos como o Telejogo e a edição especial Master System Compact. Além disso, alguns jogos foram localizados para o português, incluindo o famoso Street Fighter 2, muitos anos depois, em 1997.
Vale dizer que a parceria com a TecToy foi essencial, pois o Brasil vivia uma período de políticas de reserva de mercado entre os anos de 1984 e 1992, o que limitava muito as importações e obrigou a parceria com a TecToy para a fabricação nacional. Em 2012, o MasterSystem da TecToy vendeu 150 mil unidades por aqui, o que demonstra uma relevância significativa do console para o mercado nacional. Quem aí se lembra do “Clube Sega”?

Mas o que essa história ensinou para a Nintendo? Bom, a resposta óbvia são os exclusivos que fidelizaram toda uma geração e são mega populares até hoje, como a franquia Zelda, que vendeu 21 milhões de unidades com Tears of the Kingdom. A resposta menos óbvia é a localização e adaptação de preços, o que pudemos ver claramente como Nintendo Switch aqui no Brasil. Apesar dos jogos serem caros, o console ficou famoso por ter um preço acessível, concorrendo em pé de igualdade no mercado nacional, com hardwares mais poderosos como o Xbox Series S e o Playstation 5.
No fim, a Sega priorizou o hardware, mas falhou em entregar conteúdo. A Nintendo entregou conteúdo, mas ficou devendo em hardware, tanto que o Super Nintendo superou o Nintendinho em todos os aspectos técnicos, alguns anos depois.
2. Anos 90: A Era da Inovação e do Marketing Agressivo
Seguindo nossa história para a década de 90, podemos dizer que a Nintendo aprendeu algumas boas lições também. A empresa japonesa entrou com tudo no mercado, surfando na onda de sucesso do Nintendinho e vendendo quase 50 milhões de unidades do Super Nintendo, que começou a ser produzido em 1990 e foi descontinuado em 2003. O console manteve a Nintendo como líder de mercado no Japão e na Europa, no ínicio dos anos 90, mas perdeu algum terreno para o Sega Genesis lá nos Estados Unidos.
Essa perda de terreno se deve ao fato de que o Sega Genesis lançou 2 anos antes, em 1988 com uma campanha de marketing bem agressiva nos Estados Unidos, deixando o console da Nintendo para trás pela vantagem de ter chegado antes ao mercado. Claro, o Super Nintendo tinha gráficos mais bonitos, mas o Genesis era mais rápido e teve uma campanha de marketing bem mais eficiente que o seu sucesso, o Master System. Ainda assim, as franquias exclusivas da Nintendo seguraram muito bem a empresa com títulos como The Legend of Zelda: A Link to the Past e Super Mario World, que vendeu 20 milhões de cópias.
Aqui no Brasil, a parceria entre Sega e TecToy continuava dando muitos frutos e o Genesis chegou a ter 75% da fatia de mercado, com jogos muito celebrados como Sonic 3 e Mortal Kombat.
Foi então, em 1994, que o Playstation 1 chegou com tudo e tomou conta do mercado, vendendo impressionantes 100 milhões de unidades, mais que o dobro do Super Nintendo. O console redefiniu a indústria de videogames com a tecnologia dos CD’s, gráficos 3D e jogos antológicos como Final Fantasy 7, que vendeu 14 milhões de cópias.

Mesmo com o sucesso do Nintendo 64 e Sega Saturn em meados dos anos 90, o Playstation era superior e deixou pra trás até os consoles sucessores de suas concorrentes.
Mas como esquecer das icônicas propagandas que incentivavam a guerra entre consoles da época? Campanhas de marketing como “Genesis does what Nintendon’t” e “Blast Processing” ridicularizavam a lentidão do SNES. Comerciais comparavam o Genesis a um carro de testes de corrida e o Super NES a uma “van lerda”. O Genesis também apostou no público adulto para seu marketing, mantendo o sangue de Mortal Kombat, o que resultou em 3 vezes mais vendas em relação ao Super Nintendo.
Já a Nintendo, adotava a família e o público casual como prioridade, adotando políticas rígidas de censura, como retirar as suásticas em Wolfenstein 3D e focar em jogos como Donkey Kong Country, que vendeu 9 milhões de cópias. Em compensação, as políticas de mercado da empresa não eram nada familiares. A empresa exigia exclusividade de desenvolvedoras como Rare e SquareSoft, mas perdeu apoio após ações antitruste nos EUA.
A Sony, focou seu marketing no poder de hardware e inovação do Playstation. Como o console era muito poderoso em relação aos concorrentes, a Sony investiu no público adulto, com jogos considerados triplo A pra época, como Final Fantasy e Metal Gear Solid, que tinham cutscenes cinematográficas e trilhas orquestrais com alta qualidade de som. Mas seu grande e matador argumento era o preço, 100 dólares mais barato que o seu concorrente Sega Saturn.

Assim como os anos 80, os anos 90 também foram cheios de lições para a Nintendo, que refletiram no Switch, tá? A Nintendo aprendeu que um console deve abraçar todos os públicos. O familiar, o casual, o nostálgico e o hardcore. No Switch, Animal Crossing vendeu mais de 45 milhões de cópias e Mario Kart 8 vendeu mais de 60 (SESSENTA) MILHÕES para o público casual. Ao mesmo tempo, Metroid Prime e Legend of Zelda viraram franquias eternas da Nintendo e focam nos fãs mais tradicionais, hardcore e amantes de RPGs e FPS.
Outra lição aprendida pela a Nintendo é que o caminho certo talvez não fosse competir com o hardware e em ter o console mais poderoso e com melhores gráficos. O Playstation 100 dólares mais barato, meio que “traumatizou” a Nintendo nesse aspecto e desde então, a empresa faz questão de se separar da briga de consoles por gráficos, promovida por Sony e Xbox.
3. Anos 2000: A Revolução Casual
Já os anos 2000 é onde começamos a perceber como a ideia do Switch começa a ser concebida. O Gamecube era um videogame bem daora e tinha até bons gráficos, mas a gente até esquece da existência dele, quando paramos para pensar que ele concorreu com o Playstation 2. O PS2 é o videogame mais vendido da história e seu efeito na concorrência foi destruidor. O Xbox conseguiu sobreviver, mas graças ao total subsídio da Microsoft, que viu potencial no console e investiu para a próxima geração.

Eis que surge uma das gerações de consoles mais memoráveis de todos os tempos: a geração Wii, 360 e PS3. Foi uma geração curiosa, porque muitos consoles, das 3 marcas foram vendidas. O Xbox 360 vendeu 84 milhões de unidades, o PS3, 87 milhões e o Nintendo Wii mais de 100 milhões de unidades. Até então, claro que muita gente jogou o PS2, mas foi a primeira vez que todas as marcas venderam muito e isso mostrou que os jogadores estavam animados e dispostos a abraçar diversas propostas de consoles.
O que justificou a vitória da Nintendo nessa geração, foi mais uma vez, se desgarrar da guerra de hardwares e gráficos promovida por Xbox e Playstation. O Wii adotou uma tecnologia totalmente inovadora com seus controles de movimento, design acessível e novas formas de jogar jogos de esportes, dança, tiro e aventura. Como? Em pé! Pela primeira vez, os gamers eram obrigados a jogar em pé, o que rendeu excelentes memórias para grupos de amigos e famílias. O Nintendo Wii virou um fenômeno histórico e social, sendo muito popular até mesmo entre idosos, famílias e não jogadores, algo não visto até então na indústria dos games. O console foi parar até em hospitais e asilos para a prática de fisioterapia.
Claro, o Nintendo Wii não ficou imune às críticas. Por conta de seu hardware fraco, muitos criticaram jogos como Zelda Skyward Sword, que veio com gráficos muito simples. Mas no fim, isso pouco importou, pq a Nintendo também fechou grandes parcerias com empresas terceiras, como a Ubisoft, que desenvolveu o famosíssimo Just Dance e a EA, que produziu o Wii Fit, febre dos exercícios em casa.

Enquanto isso, a Microsoft e a Sony começavam a desenvolver seus ecossistemas próprios, focando na qualidade e poder de hardware. A Sony produziu os incríveis The Last of Us e Uncharted, marcos de lindos gráficos e ação desenfreada e de altíssima qualidade. A Microsoft vendeu mais de 14 milhões de cópias de Halo 3 e fez uma incrível integração com o multiplayer online, definindo o Xbox como a casa dos jogos competitivos online. Ambos investiram em seus serviços de assinatura, que entregavam jogos grátis, no final de todo mês. Mas claro, apesar de terem grandes atrativos perderam para o Wii em inovação, preço e qualidade técnica. No caso do Xbox 360, conhecemos as famosas LUZES VERMELHAS, que atrapalharam muito a reputação do console e da Microsoft.

Foi então, à partir de 2012, que a Nintendo tomou um grande tombo com o lançamento do Wii-U. Estima-se que 46% dos consumidores achavam que o novo console da Nintendo, na verdade era um acessório do Wii. A falta de jogos no lançamento e um hardware muito defasado, foram a ruína do Wii-U. Pra vcs terem uma ideia, o console conseguia ser mais fraco que o Xbox 360, mesmo tendo lançado 7 anos após o seu concorrente. O Wii-U foi um desastre de vendas, vendendo apenas 13 milhões e meio de unidades, apesar de Mario Kart 8 ter sido um sucesso de vendas, vendendo mais de 8 milhões de cópias.
E PAUSA!!
Gente, aqui a gente precisa entender com muita calma quais foram as lições aprendidas pela Nintendo e pq o fracasso do Wii-U foi essencial para a existência do Switch.
A Nintendo entendeu finalmente, que inovação e acessibilidade de controles não era tudo. Por isso, adotou um console híbrido como solução. O Switch ainda possui a herança do joy-cons, com controles de movimento, mas não é só isso. O Switch 2, por exemplo, possui tecnologia DLSS da NVIDIA e é capaz de rodar jogos até em 4k, quando encaixado em sua base.
A Nintendo também entendeu que públicos de jogos como Animal Crossing e Mario Kart são importantes sim para manter seu público fiel de anos, mas também é importante manter jogos voltados ao público mais hardcore como Metroid Prime, The Witcher 3, Hollow Knight e Doom Eternal, disponíveis em sua loja digital.
4. Anos 2010-Presente: A Reação da Nintendo à Concorrência Moderna
Mas no fim, o que as lições aprendidas, tanto com o Switch 1, quanto com a atual geração de consoles, influenciou ou influenciará o Switch 2?
Bom, o Switch vendeu 150 milhões de unidades, desde seu lançamento em 2017. Isso, por si só, já entrega o sucesso comercial do console. O fato da Nintendo ter adotado o hibridismo e ter saído da guerra de consoles, tornou o Switch um console que opera fora de uma lógica tradicional de mercado. Focado no público japonês e um sucesso comercial nos Estados Unidos, o Switch é um exemplo de sucesso indiscutível. Seu catálogo com o nostálgico Super Mario Odyssey, e as novidades Silksong e até Cyberpunk 2077, torna um console disponível e acessível a todos os gostos.

Gostos, não públicos. Pq para atingir todos os públicos, precisa ter um preço acessível. Mas isso é história para outro vídeo.
Mas até do Steam Deck, o Nintendo Switch 2 bebeu da fonte, viu? Claro que a estratégia é ser casual, mas o Switch 2 vem como uma forma de versão PRÓ do Switch. Sua capacidade de atingir resoluções 4K, acoplado na base, utilização de tecnologia DLSS e uma tela OLED estendida, mostram um maior compromisso da Nintendo com um hardware de qualidade, que não necessariamente é poderoso, mas cumpre a função de rodar mais jogos. Precisamos esperar para ver, é claro, mas talvez o Switch 2 terá a biblioteca de jogos mais vasta da história da Nintendo.
Talvez a palavra certa aqui seja OTIMIZAÇÃO e não PODER. É de se impressionar, por exemplo, que o jogo Hades rode a 60 fps no Switch Lite. Claro, o custo é uma resolução de apenas 240p, mas Hades é um jogo que requer rapidez e fluidez, bem como possui gráficos simples. Então, o pequeno console cumpre totalmente sua função.
Porém, a gente ainda não pode fechar os olhos para o fato de que o Steam Deck, ainda que seja um console híbrido mais caro, possui total capacidade de retrocompatibilidade e emulação, possuindo uma biblioteca quase infinita.
Conclusão: O Legado das Guerras de Consoles no DNA do Switch
O Switch é um produto das guerras de console do passado, não há como negar isso. O Game Boy, ensinou a portabilidade ao Nintendo Switch. O público casual fiel e familiar do Nintendo Wii, ensinou ao Switch que ele pode ser um console de todos. E o tropeço do Nintendo Wii-U, ensinou o Switch, que apesar de possíveis erros que possam ser cometidos, aprender com erros e inovar é a verdadeira estratégia vencedora na indústria dos games.

Mas e aí? Vcs acham que o Switch 2 vai superar o Play 2 como o console mais vendido da história? Então comenta aqui pra mim!
E sobre os preços do Nintendo Switch 1 e 2, eu entendo que esse assunto é muito complexo e precisa de um vídeo dedicado. Seria muito injusto eu trazer essa discussão tão complexa, depois de falar por tanto tempo. Mas se vcs quiserem um vídeo sobre isso, comenta aqui pra mim, que eu vou fazer uma pesquisa bem minuciosa e trazer esse assunto bem destrinchado, pq é muito importante.
E sim, 80 dólares é caro e 70 dólares é caro. A gente se acostumou, mas na real? 60 também é!
Eu sou o Fauno. Esse foi mais um episódio do História & Games e se vc curtiu, não esquece de mandar praquele seu amigo, pra ele vir discutir esse assunto super importante com a gente. E também não esquece de conferir os outros vídeos do canal, pq tem muito assunto interessante.
Um beijo do Fauno e até a próxima!