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The Spirit of the Samurai – Imperfeito, mas memorável

Chave recebida via Keymailer.

Data de lançamento: 12 de dezembro de 2024;
Plataformas disponíveis: PC (Steam);
Desenvolvedor: Digital Mind Games;
Distribuidor: Kwalee;
Gênero: Action‑Adventure / metroidvania / hack‑and‑slash em 2D.

Uma experiência visual única, com alma de samurai e nervos de indie.

PREMISSA/NARRATIVA

The Spirit of the Samurai te solta no Japão feudal num dia tenso: Takeshi, o samurai, acorda depois de apanhar bonito. A vila está tomada por mortos‑vivos, oni, tengus e até uma assustadora jorōgumo, e ele é a última esperança. É um roteiro que trabalha o de sempre “benção x maldição”: vingança, honra e sangue.

O jogo intercala a jornada de Takeshi com momentos controlando o felino Chisai (modo stealth, se não quiser virar jantar demoníaco) e o pequenino espírito Kodama que traz uma vibe Ghibli. Cada personagem tem seu propósito narrativo, mas acaba virando uma passagem obrigatória pra varrer o level design, nem sempre com bastante graça.

A história se desenrola via cutscenes em CGI, e também por trechos narrados por uma Kitsune, que adiciona aquele toque folclórico japonês clássico.

GAMEPLAY/JOGABILIDADE

O jogo oferece uma mistura ousada de gêneros, costurando soulslike, metroidvania e até stealth felino em uma jornada 2.5D de dar nó nos dedos. Controlar Takeshi é como assumir o volante de um carro de 1930: estiloso, mas cada curva é uma reza. O combate exige atenção aos parries, uso inteligente da stamina e conhecimento do alcance dos seus golpes. A dificuldade é honesta, mas às vezes beira o castigo gratuito por culpa de um inimigo teleguiado ou de uma câmera mais perdida que ninja em rave.

Mas nem só de katana vive um samurai. Em certos trechos, o controle passa para a gata Chisai, que exige precisão e paciência ninja. Ela é veloz e silenciosa, perfeita para momentos furtivos, mas pular entre plataformas ou escapar de inimigos com detecção capilar pode ser frustrante. Já o Kodama, espírito ancestral de um guerreiro ancestral mais ancestral ainda, traz leveza. Seus segmentos são focados em exploração e resolução de puzzles simples, com mecânicas como “andar em cordas bambas de raízes místicas”, o tipo de coisa que parece saída de um conto de Miyazaki após três doses de saquê.

O sistema de combate de Takeshi tenta algo ousado: você monta combos usando o analógico direito, como se estivesse coreografando sua própria dança da lâmina. É criativo, mas pode ser esquisito até pegar o jeito. A barra de stamina funciona como freio natural da pancadaria, forçando o jogador a agir com cautela em vez de sair descendo o bambu em todo yokai que aparecer.

Apesar de suas falhas técnicas, a jogabilidade consegue entregar momentos tensos e cinematográficos, especialmente durante os chefes. Há uma sensação de progressão constante, com novos ataques sendo desbloqueados, atalhos abrindo no mapa e aquele gostinho de “ok, agora sim tô ficando bom” quando se vence um oni depois de dez tentativas e quatro insultos à tela. Se o jogador tiver paciência, há muita diversão dentro dessa armadura de madeira esculpida à mão.

DIREÇÃO DE ARTE/ASPECTOS TÉCNICOS

Se tem uma área onde The Spirit of the Samurai não apenas acerta, mas mete o pé na porta do templo e grita “olha pra mim”, é na direção de arte. O jogo é todo animado em stop-motion rotoscópico — sim, isso mesmo — um estilo artesanal que lembra os clássicos de Ray Harryhausen (Não lembra né? Olha no google), misturado com um toque de terror à la Laika. Cada movimento dos personagens tem um charme esquisito, com uma fluidez propositalmente travada, como se estivéssemos vendo bonecos ganhando vida num ritual xintoísta. Isso cria uma estética única, quase hipnotizante, que destaca o jogo de praticamente qualquer outro do gênero.

Os cenários são uma pintura viva: bosques amaldiçoados, vilas devastadas, templos abandonados e cavernas infestadas de yokai formam um Japão feudal sombrio, carregado de atmosfera e mistério. É o tipo de arte que dá vontade de tirar print a cada 5 minutos. O uso de luz e sombra é bem calculado, com destaque para áreas iluminadas apenas por lanternas balançando ao vento e fogueiras sinistras refletindo nos olhos de demônios prestes a te esfolar. Há um carinho evidente em cada elemento visual, mesmo que o jogo, vez ou outra, tropece em sua própria ambição.

O design sonoro acompanha bem essa pegada macabra. A trilha mistura instrumentos tradicionais japoneses com sons inquietantes de ambiente — você ouve vento uivando, madeira estalando, yokai sussurrando e samurais urrando em dor. As dublagens, inclusive em português brasileiro, são competentes e ajudam na imersão, especialmente nas cutscenes que funcionam como pequenas animações de terror folclórico. Destaque para a narração da Kitsune, que dá um ar quase mitológico à jornada. É como se um conto de horror estivesse sendo lido para você à beira da fogueira… com criaturas tentando te matar atrás.

No aspecto técnico, porém, nem tudo é tão polido quanto a armadura de Takeshi. Existem bugs visuais, animações que não se alinham direito e transições meio abruptas entre cutscenes e gameplay. A câmera, em certos momentos, parece indecisa, como se fosse um espectador bêbado tentando acompanhar a ação. Ainda assim, o jogo se mantém jogável do começo ao fim, e considerando o pequeno porte do estúdio, é admirável o que conseguiram entregar. A beleza estética é tão marcante que, muitas vezes, compensa as imperfeições técnicas. É um daqueles raros casos em que o estilo vence o suor bruto da performance.

CONCLUSÃO

The Spirit of the Samurai é um jogo com sangue, barro, yokai, e muito stop-motion artesanal derramado por cima. Visualmente, ele impressiona como poucos jogos independentes. Cada frame parece saído de um pesadelo folclórico ilustrado por um animador obcecado por detalhes. A trilha sonora, o design de som e o trabalho artístico merecem um altar com velas acesas. Mas o que ele tem de arte, ele ainda precisa alcançar em controle.

A jogabilidade, embora recheada de boas ideias, escorrega justamente onde deveria brilhar: na mão do jogador. Os controles têm um delay que parece castigo divino, os parries nem sempre respondem como prometido e os segmentos da gata ninja e do espírito kodama às vezes testam mais a paciência do que a habilidade. Dá pra jogar? Com certeza. Dá pra se divertir? Sim, e bastante. Mas dá pra ignorar os tropeços? Só se você estiver mesmo encantado pelo visual, e muita gente vai estar.

No fim das contas, esse é um jogo que entrega um universo riquíssimo, mas que tropeça ao tentar amarrar todos os sistemas com fluidez. Ele é como um pergaminho antigo: lindo, denso, cheio de história… mas que às vezes rasga quando você tenta abrir com pressa.

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Press Manager, criador de conteúdo e editor do Patobah | Pai, marido, pessoa com TEA | Gamer, fã de cultura pop e animes dos anos 90 - [email protected]

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