Se ele conseguiu sem ser gamer, eu consigo sem ser programador (Akira Kawazoe)
Ser desenvolvedor de jogos independentes no Brasil, é uma tarefa que exige não apenas criatividade, mas também coragem, resiliência e uma boa dose de loucura. Frostflame, o primeiro jogo do designer gráfico Akira Kawazoe, é um exemplo poderoso disso: um projeto solo nascido da frustração, forjado na curiosidade e sustentado por pura paixão.
Conversamos com Akira para entender como surgiu a ideia de criar um soulslike praticamente sozinho, quais foram os desafios, inspirações e o que ele tem a dizer para quem sonha em trilhar o mesmo caminho. Confira abaixo:
Como surgiu seu interesse por desenvolver jogos?
“Eu não sou de desenvolvimento, na verdade eu sou Designer Gráfico, mas sou gamer e sempre quis fazer alguma coisa relacionada. A ideia de entrar nesse mundo surgiu depois de algumas frustrações: eu era sócio de uma Agência de Marketing, e tivemos um pedido de orçamento de um pequeno estúdio de games mobile, fiquei hypado pois era minha chance de ter um pézinho no mundo dos games, mas infelizmente não tivemos nosso orçamento aprovado, até então ok.Mais tarde um dos sócios desse pequeno estúdio que é um conhecido meu, disse que estava fazendo um jogo mais “elaborado” um Third Person Shooter, então perguntou se eu, como gamer gostaria de testar, eu prontamente aceitei. Após testar e dar meu veredito sincero, me propus a dirigir artisticamente o game dele, em uma parceria comercial, mas ele recusou. Frustrado pela segunda vez, pensei indignado, “Poxa se ele sem ser gamer conseguiu, eu sem ser programador consigo também”. Fui pra cima pesquisar sobre Unreal Engine. Fui ao meu antigo sócio da agência e o convidei para começar o projeto comigo, afinal ele já era meu parceiro de negócios há um bom tempo. Ao propor a nova empreitada, infelizmente ele recusou, foi então que decidi começar sozinho mesmo, e cá estou hoje.
Esse é seu primeiro projeto? De onde surgiu a ideia de Frostflame?
“Frostflame é literalmente meu primeiro e único projeto até agora. Sou apaixonado por jogos soulslike e o Dark Souls me ajudou num momento difícil da vida. O jogo carrega influências de Dark Souls, Bloodborne, Sekiro… Mas, além disso, o jogo carrega muitas referências importantíssimas na minha vida. A protagonista é inspirada na minha cachorrinha, Chihiro, que por sua vez se inspira em “a viagem de Chihiro”, ela é uma Akita Inu, e a protagonista também tem um cão chamado Inubushi que é da mesma raça, o Mestre Hori é inspirado em um grande amigo meu que já faleceu, e no jogo você vê referências a filmes, séries e outras obras que marcaram a minha vida, claro, tudo muito sutil e muito discreto, tem que ser nerd pra pegar rsrsrsrs. Até minha mãe está no game!.”



Aprendizado na prática e desenvolvimento à base de vela acesa
Qual foi o maior desafio durante o desenvolvimento?
“Saber o que eu estava fazendo, rs. Abri a Unreal Engine 5 pela primeira vez com o projeto já em mente. Cada resposta que encontrava gerava duas novas dúvidas. Era como acender uma vela numa sala escura para achar outra vela. Foi assim que fui aprendendo.”
Ferramentas, processos e o peso de fazer tudo sozinho
Quais ferramentas você usa no projeto?
“No Frostflame uso a Unreal Engine 5, e como softwares paralelos uso: Zbrush e Nomad Sculp para modelar personagens, Blender e AccuRig para fazer os Riggings (colocar esqueleto) dos personagens, Cascadeur para fazer animações e Softwares gráficos e geral como Photoshop, illustrator.”
Você faz tudo sozinho?
“Praticamente tudo. A única coisa que não fiz foram as vozes e músicas. Também comprei alguns assets da Unreal Marketplace — coisa que até estúdios AAA fazem —, mas sempre adaptei tudo ao estilo do jogo. O resto: programação, lore, design de personagens, história, tudo sou eu.”
O prazer em criar chefes e o terror da otimização
Tem alguma parte do desenvolvimento que você ama ou odeia?
“Confesso que sou meio sádico rsrsr, eu amo fazer as boss fights, pois é o que eu mais amo nos jogos souls. então eu viajo imaginando o jogador enfrentando aquele boss particular, tem uns dois ai que eu já prevejo rage de alguns jogadores. Já a que menos gosto é sem dúvidas a otimização, além de muito difícil de ser feita, é muito massiva, chata e dá “poucos resultados” comparado ao esforço imenso que exige.”
Ser notado: o maior desafio do indie brasileiro
Qual o maior desafio de ser um dev indie no Brasil?
“Sem dúvidas nenhuma, é ser visto. Ou talvez nem seja questão de ser visto, mas ser notado. Confesso que é muito “triste” estar sozinho nesse mundão, sabe? As veze me deparo por exemplo com alguns influenciadores que teriam o poder de impulsionar o projeto de maneira absurda simplesmente não darem atenção, e o mais chato é ver que ele tá lá fazendo publi pra estudio gringo, tá lá falando pros seguidores “apoiarem o mercado nacional” mas eles mesmos não dão espaço pra nós indies de verdade… Eu estive em contato com vários, fiz propostas de publi paga, pedi orçamento, pedi midia kit e fui ignorado por todos. Aliás queria aproveitar o espaço e deixar meus agradecimentos ao Bruno e o Vnus do Leigos intelectuais que foram os primeiros a me dar esse espaço, ao Aboleth Cast, ao Let me Solo Games, todos eles deram um espaço para eu expor o projeto, e principalmente a Isadora Basille que tem um canal gigantesco e mesmo assim me deu um espaço pra falar do projeto e ainda por cima fez a voz de uma personagem massa de mais no Frostflame!
Obrigado a todos vocês!”
Conselhos para quem está começando
Que conselho você daria para quem quer começar agora?
“Boa sorte, rs. Brincadeira. Meu conselho é: tenha força. Vai parecer impossível às vezes, mas persista. Eu não sou programador, nem de exatas, vim do design. Se eu consigo, você também consegue. Só não desista. Como diz uma frase que me marcou no Dark Souls 1: Don’t you dare go hollow.”
Frostflame: onde jogar e apoiar
O primeiro trecho do jogo, Kakure, já está disponível gratuitamente na Steam. A versão completa está em pré-venda no Catarse, com previsão de lançamento futuro. Confira os links e apoie um projeto nacional feito com alma e paixão:

