Chave recebida via JF Games PR

Acho que essa seria a frase perfeita para começar a definir Star Overdrive. Um jogo com uma premissa interessantíssima, muitas qualidades, uma inspiração clara e que apesar de problemas técnicos consegue entregar uma experiência muito satisfatória. Vem conferir o porquê!
“E se Zelda Breath of the Wild fosse Retrofuturista?”
PREMISSA/NARRATIVA
Star Overdrive é um jogo indie de exploração, puzzle e alguns momentos de ação, desenvolvido pela Caracal Games (um estúdio indie italiano, situado em Roma) e publicado pela Dear Villagers, lançado dia 10 de abril de 2025 para Nintendo Switch e PC. Na história do jogo, ele se passa em uma era não conhecida, mas que incorpora elementos da nossa cultura, principalmente alguns dos anos 90, em que encarnamos a persona de BIOS, um protagonista mudo, assim como Link, que sofre um acidente com sua nave e cai em um planeta previamente explorado pela sociedade intergaláctica a qual ele pertence.
Bios está indo até esse planeta para investigar o paradeiro de NOUS, sua namorada, que foi designada anteriormente para explorar esse mesmo planeta, que possui riquezas minerais, mas que depois de um tempo em sua missão, sua amada sumiu, então Bios está em busca de seu paradeiro. Esse é o plano de fundo para Star Overdrive, mas esse é apenas o início, o jogo vai além e poderia até ter ido ainda mais além.
No início do jogo descobrimos que a amada do protagonista, BIOS, sofreu alguns momentos inesperados na exploração do planeta, que antes dela também já tinha sido explorado por expedidores que buscavam riquezas minerais mas que acabaram encontrando inimigos inesperados, naturais deste planeta e tiveram que encerrar suas operações.
A medida que se avança no jogo você vai descobrindo registros eletrônicos que Bios fez em sua expedição estadia no planeta, eles estão em máquinas usadas por ela e também em fitas de áudio (típicas dos anos 80 e 90), que possuem registros gravados por ela, que são colecionáveis do jogo mas que servem também como uma forma de aprofundar a lore desse universo que vai se mostrando rica e interessante.
GAMEPLAY/JOGABILIDADE
O jogo incorpora essa estética retrofuturista dos ano 90 muito bem em sua lore, incorporando até mesmo elementos de gameplay nisso, como por exemplo a Keytar (uma guitarra com teclado usada como espada pelo protagonista), que pode incorporar fitas específicas que concedem a ele habilidades, que ao todo são 6, muito semelhantes as habilidades de Link em Breath of the Wild e Tears of the kingdom, inclusive, nesse ponto o jogo mostra que a principal inspiração e a nova era de Zelda.
Vários elementos de Zelda são vividamente presentes no jogo, direcionando seu gameplay, mas a boa notícia é que são inspirações, Star Overdrive possui muita identidade, repleta de homenagens claras a zelda, mas não passam disso, homenagens muito bem vindas e que complementam a experiência do jogo pra quem já conhece Zelda, não mais que isso.
E eu diria que a inspiração mais pungente seria a estruturação do mundo aberto em que você possui uma missão principal em um mundo vasto e bonito que possui algumas missões paralelas simples, como por exemplo, alguns puzzles de cenário, como os que você precisa reativar algum ponto de mineração, que vai lhe recompensar com materiais para craftar melhorias para o seu hoverbord, seu principal parceiro na exploração.
Mas como eu falei, são inspirações e o hoverboar talvez seja a principal diferença, o principal ponto de ruptura com zelda, porque aqui, a exploração se dá de maneira muito mais rápida, mesmo sem fast travel para pontos específicos do mapa, o hoverboard garante uma movimentação ágil, fazendo da fast travel uma feature dispensável, mas que talvez ainda seja adicionada no futuro.
No mundo aberto do jogo ainda é possível encontrar atividades específicas que envolvem o hoverboard, como por desafios de tempo, em que você precisa passar por pontos específicos do mapa, e ao final você recebe recompensas.
Mas também encontramos, espalhados pelo mapa, Torres de referência, que ao serem escaladas liberam o mapa da região (alô Zelda!), mas essas torres também funcionam como facilitadores na locomoção, porque no topo de cada uma exista um impulsionador, que funciona como uma catapulta, que te joga bem longe em qualquer direção, agilizando as viagens mais longas.
Além das torres temos também as minas (uma adaptação das Shrines de BotW e TotK), que possuem como foco a resolução de puzzles que exploram as habilidades tanto do hoverboard quanto da Keytar, e no final de cada uma dessas minas você recebe um ponto de habilidade, que pode ser usado para desbloquear melhorias em uma árvore de habilidades relativamente extensa do jogo, que vão desde causar mais dano com a keytar, aumentar a stamina ou receber mais recompensas.
O mapa também conta com outros segredos como alguns robôs com missões secundárias, baús, fotos e os Star Overdrives, arquivos de música espalhados pelo mapa, um dos principais coletáveis, enfim, existem diversas atividades secundárias que podem ser aproveitadas no mapa de Star Overdrive, apesar de ser uma jornada solitária do protagonista, não faltam atividades, monotonia passa longe.
E o jogo se divide principalmente em momentos de exploração, resolução de puzzles e em um último ponto: o combate.
Definitivamente o ponto mais fraco do jogo.
Em alguns pontos do mapa existem inimigos, alguns que são monstros nativos do planeta e alguns outros robôs, porém a maior parte do combate contra eles é ruim.
O protagonista possui apenas um combo e um golpe concentrado, tanto no chão quando no ar, podendo variar com o uso de habilidades que vão sendo conseguidas ao avançar na história, contudo, alguns inimigos precisar de algumas habilidades específicas para serem derrotados, o que não seria um problema se essas habilidades não gastassem tanta estamina e a movimentação dos combos não fosse tão travada.
Fora que a variedade dos inimigos é bastante reduzida, existem meia dúzia de inimigos orgânicos (monstros) e outra meia dúzia de inimigos robôs, com exceção dos chefes, que sem dúvida são o ponto mais baixo de todo o jogo abaixo até do combate.
Todos possuem boss fights ruins, com animações ruins, batalhas pouco intuitivas, alguns com bugs (que provavelmente serão ajustados a posteriori), mas acima disso, o desafio dos chefes está em superar mecânicas mal feitas para as batalhas. Por exemplo, em um dos chefes, la pelo meio do jogo, você precisa diminuir seu escudo para acertar seu HP, mas para destruir o escudo é preciso ficar realizando manobras acima desse chefe, que voa… um pesadelo.
O que fica parecendo é que o jogo foi pensado para ser apenas um RPG de exploração, e nisso o jogo se sai muito bem, toda a atmosfera do jogo passa uma sensação de solitude agradável, que é completamente destoada pelo combate, principalmente contra chefes, que é objetivamente ruim e parece ter sido inserido às pressas.
DIREÇÃO DE ARTE/ASPECTOS TÉCNICOS
Contudo, o mesmo não pode ser dito a respeito da trilha sonora, que é variada, calma quando precisa ser, misteriosa, intrigante e até mesmo pulsante, sempre e apenas nos momentos que o contexto do jogo pede.
Nas batalhas contra chefes a trilha cresce e entrega um épico bem vindo, nos momentos de exploração e passeia, ela se acalma e se torna afagante.
O design de som também é um show à parte. Tudo no jogo tem uma identidade sonora. Seja o desbloqueio de uma mina, seja o acesso a uma torre, ou mesmo a utilização de uma habilidade com a Keytar, que se utiliza da guitarra do protagonista e cada habilidade tem um som específico que imediatamente se torna reconhecível por quem joga.
Toda a parte sonora também casa muito bem com a parte gráfica, que mais um vez lembra zelda, com um gráfico cell shading muito agradável e bem feito, que entregam protagonistas com um design futurista interessantes, cenários muito bonitos, com cores vibrantes e em alguns momentos passam até mesmo um tom bucólico, muito bem vindo ao jogo, pecando apenas no design de alguns poucos inimigos, porém o design dos chefes é realmente interessante, um deles, a meu ver, claramente uma referência ao Rayquaza, de Pokémon Emerald, mas não comentarei nada para evitar spoilers, o importante é que é bem feito.
PROGRESSÃO E TEMPO DE CAMPANHA
Contudo, essa perfeição não é encontrada em um dos pontos mais importantes do jogo, na minha opinião: a progressão.
Como já comentado, em várias atividades do jogo você é recompensado com itens que servem para craft, que basicamente serve para melhorar os atributos do seu hoverboard, que vai desde a sua velocidade, impulso e energia, porém algumas modificações só ficam disponíveis quando você explora pontos específicos do jogo e algumas habilidades do hoverboard não acompanham a evolução do mesmo. Parece confuso, mas explico:
o jogo te força a adquirir habilidades de poder surfar sobre algumas superfícies além do solo, como água e metal, podem, mesmo atingindo os atributos necessários, a posteriori, com o avançar do jogo, esses requisitos mínimos aumentam, o que não faz sentido e força o jogador a ter que explorar e farmar materiais para fazer mais crafting, o que torna a exploração terrível, porque se antes eu tinha conquistado a habilidade de surfar sobre água, depois eu passo a não ter mais.
Me vi obrigado em alguns momentos a parar a campanha e ter que ir atrás de materiais pra poder explorar sem me preocupar em afundar, o que me levou a explorar algumas minas, que não são rápidas.
A meu ver, esse tipo mata o prazer da exploração em um jogo como esse, porque o sentimento é de que exploração não deveria ter entraves.
Além disso, esses fatores podem aumentar consideravelmente o tempo de campanha. E por falar na campanha, apesar de existir uma main quest bem dividida ela não se apresenta de forma linear, é possível explorar outros pontos da história não necessariamente na ordem em que se deveria, e isso faz com que ela se apresente de maneira um pouco confusa em algumas ocasiões.
Não chega a ser ruim, mas creio que uma main quest mais fechada seria muito mais bem vinda, tendo em vista a movimentação livre do jogo, é muito fácil chegar em outro ponto da história e pular um setor da narrativa que seria melhor ter sido visto antes. Isso pode deixar alguns jogadores confusos e aumentar o tempo de campanha.
Levei em torno de 25 horas para finalizar apenas a mais quest, e fiz metade de todos os colecionáveis apenas e sobraram ainda muitas minas e pontos de escavação. Caso alguém se proponha a explorar 100% do jogo, esse tempo pode triplicar ou quadruplicar facilmente.
Mas apesar disso achei o tempo de campanha adequado a proposta do jogo.
A OUSADIA DE ERRAR
apesar de todos os pontos negativos que comentei, de modo geral Star Overdrive entrega uma experiência muito interessante principalmente pela sua dinâmica de “surfe” antigravitacional e uma estética bem legal, o balanço dos pontos tendem para o positivo, além de ser uma experiência ousada, que foge do gameplay padrão e convergente da indústria que se mostra cada vez mais engessada em mecânicas e inovação.
A ousadia de inovar requer coragem, o que não falta em star overdrive, e os erros comentados aqui podem todos serem corrigidos no futuro com alterações simples, mas demonstram o amor por criar coisas novas.






CONCLUSÃO
Star Overdrive não é perfeito, longe disso. Mas é justamente nessa imperfeição que ele brilha. Em um mar de jogos genéricos que se prendem a fórmulas seguras, ele se destaca por tentar algo novo, mesmo que tropece pelo caminho. É um jogo com alma, com personalidade, e com uma proposta que mistura nostalgia e originalidade de um jeito pouco comum na indústria atual.
Seu mundo retrofuturista, a vibe solitária e contemplativa da exploração, e o uso criativo do hoverboard e da Keytar mostram que, apesar das comparações inevitáveis com Zelda, Star Overdrive quer ser mais do que uma sombra, ele quer ser lembrado por sua própria luz.
Sim, o combate é fraco, a progressão às vezes atrapalha mais do que ajuda, e os chefes… bom, vamos torcer por atualizações. Mas nada disso apaga o fato de que essa é uma jornada digna de ser vivida. Especialmente se você está cansado de mais do mesmo e quer algo que abrace a ousadia de errar em nome de criar algo realmente único. Star Overdrive é, no fim das contas, uma carta de amor à criatividade e, com todos os seus altos e baixos, merece ser jogado.


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